Zacarias e sua história
“O povoado começou com um mineiro, mas acabou se transformando na vila mais baiana das redondezas. Deu provas de ser uma terra arrojada – teve campo de pouso e um avião.
Estamos falando de Zacarias, a cidade, e de Antonio Zacarias, mineiro de Passos, que aos 16 anos saiu de Minas Gerais, junto com a família, para tentar a vida em São Paulo.
O pai, Zacarias Silvestre, agricultor, acomodou toda a família – o jovem Antonio, a mãe e mais 6 irmãos – num carro de boi, e partiu para a cidade de São João Marinheiro, a 400 quilômetros de distância. Naquela época, nos anos quarenta, a viagem durou dias.
Vivendo basicamente da terra, a família Zacarias mudou-se, pouco tempo depois, para uma área encravada entre Buritama, Planalto e São Jerônimo (uma pequena vila que já desapareceu). Era o ano de 1941 e aquela área era só mato. Mas na beira do córrego da Ribada, onde se estabeleceu, tinha pasto para o gado e terra boa para plantio de algodão. Além disso, já existia por lá uma grande fazenda, a Caturama, que tinha a imensidão de dois mil alqueires, com uma grande área plantada e uma serraria em funcionamento.
Antonio, o filho mais velho de seu Silvestre, ergueu a primeira casa – que existe até hoje, na entrada da cidade. E logo deu nome ao lugar de Zacarias, como uma justa homenagem a família pioneira, cujo precursor, o senhor Silvestre, ficou reconhecido pela ajuda que dava aos moradores locais. Foi ele quem construiu a primeira igrejinha, uma igreja evangélica, que ele tratou de chamar de “igreja independente”, hoje pertencente à Congregação Cristã do Brasil.
Em 1942, um ano depois de sua fundação, começaram a chegar legiões de baianos, interessados na agricultura e no trabalho na serraria da fazenda – de onde saia madeira para a construção das casas. E o que era um amontoado de gente e de pequeninas casas acabou se transformando na Vila Zacarias, que virou distrito de Planalto, em 1948, pela Lei 233, de 24 de dezembro.
Mas Zacarias tinha um problema grave de acesso a centros mais desenvolvidos, comum às novas vilas. A 13 quilômetros de Planalto e 14 de Buritama, não havia meios de transporte adequados, nem estradas em condições, para se chegar a essas localidades, onde poderiam ser encontrados, por exemplo, médico e farmácia. Ali, a jardineira só passava uma vez por dia. Não havia correio, nem telefone.
Mas o povo de Zacarias resolveu esse problema de forma arrojada: se por terra estava difícil, a solução para facilitar o transporte e a comunicação daquela gente tinha que vir de cima – do céu, literalmente.
Foi feito, assim, um campo de pouso e comprado um avião, o PP-RQB. Mas como ninguém sabia pilotar, foi contratado um piloto de outra cidade, que ia para Zacarias duas vezes por semana para dar aulas de pilotagem.
Enquanto o distrito Zacarias tinha um bom comércio: lojas de armarinhos, enxovais, máquina de beneficiamento de arroz e “a mais barateira” – como orgulhosamente se auto proclamava – a “Casa Amaro” de seu Adolfo Amaro, onde se compravam ferragens, latarias em geral, bebidas nacionais e estrangeiras. Aliás, é filho de seu Amaro, que viveu em Zacarias até 1954, o comandante Rolim, na época com 4 anos de idade, nascido em Nipoã, que anos mais tarde, veio a construir a sua própria companhia aérea.
Um Zacarias fundou a vila; outro Zacarias – Lourenço, décadas depois, foi o líder do movimento pela emancipação do distrito. Filho de Antonio Zacarias, seu fundador, Lourenço nasceu, cresceu e constituiu família em Zacarias, trazendo consigo um exemplar história de luta política. Agropecuarista, foi vereador durante vinte anos (de 1972 a 1992) na então sede do Município, Planalto. Na militância política, Lourenço percebeu que o futuro do lugar estava na emancipação.
Assim, em 15 de março de 1989, começou a reunir as adesões necessárias para entrar com o processo de criação do Município na Assembleia Legislativa. Foi o pontapé inicial de uma luta que durou três anos, sem trégua. Nos primeiros momentos, Lourenço tocava a batalha sozinho. Mas, com o tempo, outros companheiros chegaram como Osvaldo Coelho Couto, Santiago Ribeiro Ferreira, Nilson Polizel e Antonio Cavalarin Primo.
Depois do plebiscito, que obteve amplo apoio popular, e da aprovação pela Assembleia, e da aprovação da Assembleia Legislativa, o entusiasmo da comunidade de Zacarias foi frustrado quando o Governador vetou a criação do Município. Nova luta, esta definitivamente vitoriosa, com a derrubada do veto pela Assembleia Legislativa em 5 de março de 1992”
Desde sua emancipação, até o dia de hoje, o município de Zacarias teve 7 mandatos políticos, com seus respectivos prefeitos sendo:
1º Nilson Polizel (1993 - 1996)
2º Naim Berg Oliva (1997 - 2000)
3º Nilson Polizel (2001 – 2004)
4º Lourenço Zacarias (2005 – 2008. Filho do fundador, e único prefeito da história do município a se reeleger)
5º Lourenço Zacarias (2009 – 2012)
6º Arnaldo Dionisio (2013 – 2016)
7º Lucineia Zacarias (2017 – 2020. Neta do fundador, filha de Lourenço Zacarias)
Fonte: O Novo Munícipio Novo, pag. 141 / Edinho Araújo, São Paulo: Graphics Editorial e Gráfica. 1998.